Confira o último artigo cadastrado:
17/12/2007 - TEM CARA DE TIOZÃO
Miro Hildebrando - Doutor em economia/brando@uniplac.net.
Uma das coisas mais odiosas na vida profissional é ser preterido em oportunidades de trabalho por ter mais que 35 anos de idade. Trata-se de preconceito que atinge quase todos os trabalhadores que, ao completar essa idade, passam para categoria inferior e são submetidos a salários menores e ausência de perspectivas de crescimento pessoal. Empresários ainda dizem abertamente que é melhor contratar jovens, mão-de-obra barata que pode ser manipulada facilmente, já que os mais velhos são “teimosos”, uma situação mantida por décadas e muitas vezes patrocinada pelo próprio setor público.
Nos países desenvolvidos, justamente para evitar o preconceito, é simplesmente proibido perguntar a idade para um candidato. A idéia fundamental é respeitar a pessoa em seus direitos como um cidadão pleno, enquanto manifestar aptidões físicas e intelectuais para a função, independentemente de aparência, idade, sexo ou etnia.
Com a crescente sofisticação dos equipamentos – quase tudo o que se usa em um hospital moderno é digitalizado; transportadoras entregam aos motoristas equipamentos sofisticadíssimos e de grande valor; bancos têm que operar todas as transações através de terminais computadorizados; empresas de comércio e telemarketing fazem vendas e as registram imediatamente em seu sistema; controles de estoque, custos e tesouraria complexos e igualmente automatizados interligam sistemas em nível nacional –, como privilegiar somente candidatos jovens, cheios do verdor da inexperiência e, ainda que capazes de aprender rapidamente, igualmente capazes de arruinar um sistema por simples ignorância?
Aqui, temos um problema: a maioria das nossas faculdades e universidades apresenta programas distantes da realidade e, sem fazer exigências quanto ao rendimento escolar, despejam no mercado milhares de indivíduos ingênuos e despreparados que têm de ser retreinados para se adaptarem ao mundo real dos negócios.
O MEC tem razão quanto à idéia básica: sem deixar de lado a teoria, forte incentivo ao ensino técnico vinculado à prática. As IES reagem a isso de maneira lenta e burocrática, respondendo conforme antiquada e bacharelística política oficial que estimula a obtençãw de diploma (aliás, muitos alunos continuam respondendo à pergunta sobre por que estão na universidade com desconcertante sinceridade: para obter diploma, não importa de quê) com currículos defasados e desfocados em relação à realidade local.
Como o comprovam estatísticas do Ipea: para 9,7 milhões de desempregados, apenas 18% têm escolaridade e experiência requeridas para empregos industriais. Em parte por causa disso, empresa curitibana está em busca de profissionais paranaenses que deixaram o Estado para “repatriá-los” – a propósito, quantos catarinas deixaram o Estado à procura de emprego?
Até que, finalmente, descobrimos a pólvora: contratar justamente os trabalhadores com mais idade, experiência e o bom senso que o exercício da prática aperfeiçoa à medida que os anos passam. Desse modo, segundo o Ministério do Trabalho, a faixa de idade que tem apresentado os maiores índices relativos de crescimento do emprego com carteira assinada é justamente a de 50 anos a 64 anos, uma conseqüência não esperada do crescimento econômico.
Contratar um tiozão é novidade, mas apenas um estágio até chegar o dia em que o ser humano será considerado e respeitado como tal em qualquer idade. Mas não devemos manter ilusões: o empresário reage dessa forma quando pressionado pela escassez e premido pela urgência de atender aos mercados de forma eficiente. Entretanto, se as coisas mudarem – não há ciclo permanente de crescimento e progresso – há o risco de as coisas voltarem, por inércia, ao estágio anterior. É preciso que o legislador esteja atento para que acabemos de vez com a pergunta “quantos anos você tem?”. Além de positivamente ilegal, ela deve ser considerada indelicada e politicamente incorreta.
Fonte: A NOTÍCIA |