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09/02/2008 - VOCÊ É UMA PESSOA FELIZ?
Nadir Antonio Pichler.
Filósofo e professor universitário/nadirp@upf.br.
O desejo de alcançar a felicidade é algo que está no coração do homem. Em todas as épocas e, novamente, nos dias atuais, a tão sonhada felicidade é palco de muitas discussões.
Mas, afinal, você é uma pessoa feliz? É possível sempre ser feliz? Ou a felicidade é uma ilusão criada pelas telenovelas, pela indústria do cinema, pelos poetas e românticos? O casamento é garantia para ser feliz? Ter uma situação financeira estável é tudo o que uma família precisa para ser feliz? Somente os ricos podem ser felizes e os pobres sempre serão infelizes? Ou o contrário?
Para Aristóteles, a felicidade é uma atividade segundo a virtude, isto é, conforme uma vida organizada pela razão. Ela é algo agradável e belo, sem necessidade de outros prazeres como acessórios, sendo o melhor de todos os bens que o homem procura. Enfim, a felicidade é algo louvável e perfeito, o fim último do homem.
Nesse sentido, a maioria das pessoas acredita que os bens exteriores propiciam a felicidade total. Mas eles são apenas meio e não o objetivo final da vida humana. Entende-se por bens exteriores todas as coisas fora de nós, como riquezas, dinheiro, bens materiais, prazer físico, a satisfação das necessidades vitais básicas, alguns amigos leais, o corpo humano, a saúde, a beleza e o vigor físico. Além destes, são todos os bens de consumo duráveis (carros etc.) e não-duráveis (alimentos etc.), a moda, as mercadorias nas vitrines do shopping centers. Ainda, as grandes festas gastronômicas, as exposições da agroindústria, da indústria e do comércio. Enfim, todas as produções humanas, desde um simples alfinete até um ônibus espacial.
Os bens exteriores, mesmo sendo tão necessários para a sobrevivência do mundo globalizado, inacessíveis para muitos, geram uma felicidade provisória, incompleta, efêmera. A verdadeira felicidade, segundo os filósofos, é alcançada por meio da busca pelos bens da alma, os bens interiores. Esses bens são a busca do autoconhecimento (o conhece-te a ti mesmo de Sócrates), a prática das virtudes, como a coragem, o discernimento (saber fazer boas escolhas), a moderação (principalmente dos desejos do comer, do beber e das relações sexuais), da justiça (saber respeitar e conviver com o outro), da liberalidade (saber administrar os recursos financeiros), pelo engajamento e participação numa comunidade política etc.
Esses bens interiores, da alma, produzem uma felicidade mais duradoura, mas jamais perene, porque o homem é um ser finito e sempre está em busca de novos desafios. Essa é a nossa condição humana. Essa felicidade mais duradoura decorre de uma vida bem organizada pela razão, a atividade mais específica do homem. Portanto, a felicidade tão almejada, totalmente romântica, total e absoluta, muitas vezes apresentada pela festa do consumo, pela mídia, cinema e romances, não existe. O que podemos alcançar são momentos preciosos, mais ou menos intensos, acompanhados de prazeres intelectuais, denominados de felicidade.
Portanto, os bens exteriores são meio para ser feliz e não o fim da vida humana, que é dado pelos bens interiores, da alma.
Fonte: A NOTÍCIA |