Confira o último artigo cadastrado:
04/04/2007 - UM PAÍS QUE NÃO INVESTE
A crise do setor aéreo expõe os usuários dos serviços a riscos e aflições insuportáveis, mas não é a primeira a comprovar a falta de planejamento e de investimentos do setor público em áreas essenciais, mas de pouca visibilidade.
Antes do caos na aviação, descasos como os que deram origem à febre aftosa, à dengue, aos buracos nas rodovias federais parcialmente cobertos às vésperas das eleições e à crise na segurança pública já expunham com clareza as deficiências nessas áreas. O drama enfrentado atualmente, com potencial explosivo para tumultuar o cenário político, confirma que, sob o ponto de vista dos investimentos, o governo apenas faz de conta na maioria das vezes, e corre atrás quando os problemas não têm mais como ser enfrentados com discursos.
Um simples exame no orçamento federal demonstra que a tendência histórica de falta de investimento público em infra-estrutura voltada para o conjunto dos cidadãos não se deve exatamente à falta de recursos. A cada ano, o poder público vem ampliando os gastos com o próprio custeio da máquina administrativa. Só na criação de uma televisão pública, o Planalto planeja investir R$ 250 milhões em quatro anos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) será contemplado com a obra mais cara da história do Judiciário, avaliada em R$ 328 milhões. E o reajuste salarial de 26% na Câmara dos Deputados significará um custo extra de R$ 26,1 milhões por ano. O problema, portanto, está mais na definição de prioridades do que na insuficiência de verba.
Mesmo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no qual o governo federal investe pesado em publicidade, está longe de significar uma reversão no histórico pouco-caso destinado à infra-estrutura. A razão é simples: muitos projetos que integram o plano já existiam ou estavam previstos. A forma adequada de o setor público enfrentar esse desafio histórico seria promover uma mudança radical na política de investimentos.
O desgaste enfrentado hoje pelo Planalto no caso da insubordinação dos controladores de vôo é o resultado de políticas que, nessa área, privilegiaram obras mais visíveis, como as que visam ao conforto, em detrimento da segurança dos passageiros.
O governo precisa gastar menos com a própria máquina e investir mais para o conjunto dos cidadãos. A alternativa é rumar para uma racionalização nos três poderes, adequando os dispêndios à realidade brasileira, que não comporta obras públicas faraônicas, nem projetos dispensáveis ou salários em desacordo com a média dos vencimentos dos servidores públicos.
Fonte: DC |