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08/11/2008 - A CRISE FINANCEIRA GLOBAL E O ESTADO BRASILEIRO
Ives Gandra da Silva Martins. Doutor em Direito. Fundador e Advogado de Advocacia Gandra Martins, em São Paulo, Professor Emérito da Universidade Mackenzie, Fundador e Presidente do Centro de Extensão Universitária (CEU). Autor de mais de 50 livros.
O continente latino-americano não sairá ileso da crise mundial. A redução da performance internacional, no caso de eventual recessão ou até de uma depressão, dependendo da reação dos agentes econômicos e do mercado consumidor às medidas adotadas pelos EUA e demais países desenvolvidos, impactará, certamente, as economias emergentes.
De início, todos venderão menos para os países desenvolvidos, o que vale dizer, o comércio mundial sofrerá sensível redução do volume de atividades. O preço das commodities cairá pela mudança de perfil, passando de um mercado comprador, que eleva preços, para um mercado vendedor, que os diminui.
Por outro lado, o desemprego, que nesse cenário tende a acentuar-se, gera inadimplência maior nas operações de crédito, além da busca de segurança para os ativos, com os financeiros de instituições mais seguras prevalecendo sobre as aplicações em ações e passando a depender mais da demanda das próprias empresas e menos do jogo das bolsas, em que a especulação é a moeda mais relevante.
No Brasil, os aumentos de vencimentos concedidos a servidores públicos – por mim condenados, no início do ano – produzirão um impacto negativo, visto que se houver redução – e deverá haver – da performance econômica, certamente tais custos incorporados ao orçamento não serão redutíveis. Em outras palavras, numa economia menor, com maior desemprego, o setor não-governamental terá que suportar o custo de maiores vencimentos pagos à sociedade governamental, que não corre risco de desemprego.
Tal custo deverá ser coberto ou pelo aumento de tributos – que seria insensato, pois reduziria ainda mais a capacidade de enfrentar a crise do setor produtivo da Nação, visto que a burocracia não gera desenvolvimento, mas amarras – ou por aumento do endividamento interno e redução de compromissos externos, ou ainda – no que não acredito – pela emissão da moeda e inflação.
De qualquer forma, haverá um custo, com redução do crescimento a expressão quase nenhuma.
Nada obstante o sistema financeiro brasileiro seja muito mais sólido que o de outros países, inclusive por alavancar o patrimônio das instituições em número de vezes muito inferior ao dos Estados Unidos (12 x 50) e ter o lastro em títulos públicos maior do que no gigante americano, a rápida desvalorização do Real, em setembro e começo de outubro, já gerou impactos que terão de ser redimensionados, no curso dos próximos meses, com perdas e ganhos – mais perdas do que ganhos – das empresas que atuam no comércio exterior ou que dependem de recursos externos.
Muito embora o Real estivesse supervalorizado, o certo é que agora está subvalorizado e a variação cambial foi demasiadamente rápida para permitir acomodações.
E, apesar de o Presidente Lula dizer que o Brasil fez a lição de casa e Bush não, creio que pelo fato de o Governo ter tornado mais onerosa a Administração Pública Federal – com o aumento do número de ministérios, servidores e vencimentos além do razoável, fazendo com que a Federação brasileira cada dia caiba menos dentro do PIB –, também o nosso país não fez bem a sua lição de casa e terminará igualmente pagando o preço, pelo incremento de privilégios e benefícios em favor dos detentores do poder.
Graças ao Governo, não há dúvida de que estamos com uma crise maior do que o Presidente Lula tem alardeado.
Fonte: CONSULEX |