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05/12/2008 - SOBRE O QUE É MUTÁVEL
Marli Gonçalves.
Pense o que quiser. Você pode mudar de idéia e o que sente, e isso é bom.
Nada em mim é óbvio. Nada em mim é imutável. Não sei por que me ocorreu esse pensamento, mas ele veio e achei ótimo. Eu nunca quis ser inflexível, sempre pensei que é bom evoluir, poder mudar de idéia, crescer, aprender, amadurecer. Sempre pensei que um dia bom é aquele no qual aprendo pelo menos uma coisa. Qualquer coisa. Uma informação, um fato histórico, um truque, uma dica, um caminho novo, alguma bobagem.
Ou mesmo que eu consiga mudar uma consideração sobre algo ou alguém. Ontem, veja só, aprendi que as reninhas de Papai Noel são nove e têm nome. Imagine. Eu dou nome em tudo, uma mania, mas nunca tinha pensado nas tais reninhas. Meu carro tem nome. Algumas partes de meu corpo têm nome. Meus bichinhos de pelúcia e até meus amigos imaginários têm nome. E passou o dia e, volta e meia, só lembrava das tais reninhas.
Ao mesmo tempo, hoje, aprendi, vejam só, e eu acho mais é que aprendi de novo, porque sabia e tinha esquecido, dada a pressão absurda que estamos vivendo, que nada melhor do que um dia depois do outro. Porque sempre tudo pode mudar. Melhorar, piorar, curar, adoecer, acontecer. Nada é imutável. Como sonhadora e intuitiva, pensando bem, acho que nem a morte é imutável.
Você pode ir, mas também pode voltar; pode jamais ser esquecido e também pode nunca ser lembrado. Pode continuar vivinho na memória de alguém, na forma de lembranças, sons, cheiros e imagens que nunca se apagam, vitais, como se a vida ainda procriasse e os dias fossem normais. Eu, que já perdi muita gente, tenho meus imortais aqui comigo.
Lembrar que há esse movimento contínuo me fez perceber que é parte importante de eu ter conseguido andar na corda bamba até aqui, reta, equilibrista, sem bêbado, sem palhaço, sem circo, mas sempre na lona, se é que me entendem. E isso só aconteceu e eu só entendi e me lembrei porque me emocionei e senti alegria sincera, aquela que você sente no coração, fugidia, como uma lufada de brisa numa tarde quente.
Coisa de segundos, e diferente, muito diferente – observem bem – da nervosa palpitação do amor, da excitação e desejo sexual. Essas são mais comuns e fazem suar, ou ficar bobo, sem jeito, vermelho corado ou dar bandeira. Legais, essas também.
Mas estou falando de algo muito mais raro, precioso.
Estou falando daquele olhar desarmado, solidário, que alguém pode te dar, de um simples minuto de atenção, aquele só para você, para te ouvir contar.
Para contar também. Para ouvir realmente sua opinião, todinha, disposto até a mudar também, seguir você, ali naquela conversa de vai-e-vem, de cumplicidade, solidariedade, apoio. Puxa, que coisa rara! Nem adianta tentar negar que você não esteja entendendo o que digo. Tenho visto como anda o mundo, que coisa, as hipocrisias realmente se superando a cada dia. Basta admitir.
Talvez um pouco mais comum, o melhor exemplo seja o daquela criança que muitas vezes está passando, você não tem a menor idéia de quem é. E ela te olha, tomba a cabeça, sorri, e você lê, no pensamento daquela mente pequenina, incrível, que ela deseja ser igual a você quando crescer, embora ela não tenha a mínima idéia do que isso signifique. Você tem certeza que foi exatamente isso o que ela pensou, limpo, incondicional. (Como incondicional pode ser o amor dos animais, mas muito dificilmente o amor dos homens, dos adultos).
Ser mutável é qualidade. Adaptar-se aos dias é arte. Sobreviver, quase uma ciência. Renovar-se e deixar-se mudar, sabedoria.
Com tanta gente esquecendo o que escreveu, as juras de amor eterno e fidelidade que um dia fez, esquecendo as promessas que ofertou, os ideais pelo quais lutou, pregando o que não pensou, pensando para ser pago, pagando para ver e pregando para não ver. Esse é um lado que é preciso enxergar.
E, também, assistir a tantas pessoas nesse mundo vendo seu chão sumir dos pés e suas casas ruírem, suas famílias desintegradas e, mesmo assim, recomeçando, recomeçando.
Não dá para ter mais nada imutável. Não dá para ser otimista, ou pessimista. Ser triste ou feliz. Amar, ser amado e nunca odiado. Comprar e não vender. Dar, sem receber. Esperar Justiça, de onde só virá controle. E que te entendam, se você não entender. O movimento será sempre contínuo. Assim é a vida: nada como um dia após o outro.
Tudo bem, sei que é informação para Parada Gay de qualquer lugar do mundo não pôr defeito, e entendo sua curiosidade. Então, vou te contar: de acordo com a lenda, as reninhas que puxam o trenó do Natal são as únicas que podem voar e chamam Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora (demais!), Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago.
Marli Gonçalves, jornalista, geminiana, nenhuma tatuagem,
só cicatrizes. Tatuagens são fixas demais para meu gosto.
Fonte: CLÁUDIO HUMBERTO |