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23/07/2007 - CRISE SEM FIM...
Se para cada episódio – como é o caso do Cindacta-4 – houvesse uma reação, o País não teria chegado a esse ponto de completa desconfiança com o setor de transporte aéreo.
Perto da tragédia que vitimou quase duas centenas de pessoas na semana passada e dado o histórico da quase aniversariante crise no setor aéreo, as falhas no sistema de monitoramento por radar do Cindacta-4 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo) deveriam ser apenas uma nota de rodapé de uma novela sem fim e com capítulos bem mais dramáticos. Vôos vindos do Exterior tiveram de ser remanejados para aeroportos de outros países, e atrasos em grande escala foram verificados em diferentes terminais aéreos. Enfim, um panorama semelhante ao observado em outros finais de semana. Dentro do script.
Mas é justamente pela omissão das autoridades e pela passividade frente ao acúmulo de sucessivos episódios negativos que situações como radares se desligarem e deixarem significativa fatia do espaço aéreo nacional sem vigilância se transformam em um mero capítulo de uma novela sem fim. Houve risco real de novas tragédias, minimizado em discurso de autoridades, sempre convictas da viabilidade de planos B. Como realmente as conseqüências ficaram restritas aos contratempos de atrasos e desvios de rotas, sem problemas.
Anuncia-se mais uma sindicância, e toca-se a vida para frente. Afinal, somente quando um avião cai no coração da maior cidade do País é necessária a apresentação de um pacote de medidas, como se somente tragédias de tamanha magnitude motivassem o despertar para a crise. Não deveria ser assim.
A falha no Cindacta-4 nasce com suspeita de sabotagem. Não seria mais uma falha técnica tão exaustivamente explicada e de difícil compreensão para leigos, e sim um ato humano com intenção justamente de prejudicar o funcionamento do sistema. A suspeita é do Ministério da Aeronáutica.
Não é porque não houve nenhum acidente que o episódio deve deixar de merecer atenção, e que a investigação possa esmorecer em momento algum. Caso as denúncias dos controladores após o acidente com o avião do Gol, no ano passado, não fossem encaradas exclusivamente como atos de insubordinação, talvez a crise aérea não tivesse se prolongado por tanto tempo.
Se sistemas de vigilância aérea são possíveis alvos de sabotagem, o que fazer? O que mais precisa acontecer? A plausível possibilidade de ocorrência de uma série de fatores responsáveis pela tragédia ocorrida com o avião da TAM de forma alguma pode mitigar a existência de uma profunda crise aérea. Não fosse assim, por que surgiria um pacote de ações alguns dias depois do acidente? Se para cada episódio – e o caso do Cindacta-4 se encaixa nesse perfil – houvesse uma reação, o País não teria chegado a esse ponto de completa desconfiança com o setor de transporte aéreo. Espera-se que a sociedade não precise aguardar novos casos escabrosos para que a crise tenha fim.
Fonte: A NOTÍCIA |