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01/04/2007 - CRÔNICA
O dr. Cunha e o sr. Pistolão
O leitor sabe qual é a maior herança cultural que a colonização portuguesa deixou no Brasil?
– O bigode?
– Os tamancos?
– As padarias?
– A caneta na orelha?
Que nada.
– É a corrupção.
Quem já morou nos dois lugares não pode ter dúvidas: Portugal e Brasil devem estar entre os países mais corruptos do mundo. Duvida?
O ranking da Transparência Internacional coloca Portugal em 26º e o Brasil no 62º lugar (notem a relação dos números) nos índices de corrupção. Há uma diferença: é que no Brasil a corrupção acontece no atacado e em Portugal no varejo.
A sacanagem na sociedade brasileira produz grandes escândalos. Mensaleiros, sanguessugas, lalaus, orofinos, cuecões. E não podemos esquecer aqueles políticos que, para garantir a popularidade, distribuem dinheiro a proto-jornalistas (ou seriam procto-jornalistas?). Tudo feito em forma de patrocínios legítimos, claro.
A sociedade portuguesa é corrupta no miudinho, nas coisas do dia-a-dia. É quase um estilo de vida e está presente nas empresas, nas universidades, nos partidos. Se você procura um bom emprego, por exemplo, só tem hipóteses de conseguir se conhecer alguém de dentro que dê uma forcinha.
Aliás, são países onde manda o QI – quem indicou. Não por acaso o folclore dos dois lugares tem duas personagens que, apesar dos nomes diferentes, são quase irmãos gêmeos: o “cunha”, em Portugal, e o “pistolão”, no Brasil. São os caras com algum poder de influência que sempre dão um jeitinho de conseguir as coisas para os amigos.
É fácil ouvir:
– Em Portugal, as coisas só acontecem quando se “mete uma cunha”.
– No Brasil, as coisas só acontecem quando se “tem um pistolão”.
E, para finalizar, sabe qual é o mais relevante laço histórico entre os dois países? É que ninguém vai preso. Em Portugal, por exemplo, há hoje apenas oito pessoas presas por corrupção. Oito, repito. E gente envolvida com a imigração ilegal. No Brasil, mensaleiros e sanguessugas continuam livres e na maior cara-de-pau. Os que não se reelegeram têm sempre um pistolão para arranjar um bom cargo público.
É como diz o velho deitado: “Só há uma diferença: uns são corruptos em euros, outros em reais”.
José António Baço, jornalista e publicitário, [email protected]
Fonte: A NOTÍCIA |